Reskilling, upskilling, recrutar dentro ou fora?
Se até há bem pouco tempo a digitalização já era uma prioridade na agenda dos gestores, a situação de pandemia em 2020 acelerou exponencialmente esta necessidade. Mas o que significa afinal uma empresa querer ser mais digital? Significa tornar os seus processos de gestão mais digitais ou lidar com os seus colaboradores e clientes de uma forma mais digital? No fundo sim, digitalizar implica tudo isto, mas afinal por onde devemos começar? E qual o real grau de maturidade que encontramos nas empresas portuguesas quando falamos no ter as pessoas certas no lugar certo, quando toca a estes temas?
Por um lado, ouvimos dizer que a prioridade das empresas que querem ser digitais e competitivas, é incorporarem na sua estrutura funções como Advanced Analytics, IoT, Artificial Intelligence, robotic process automation, entre outras. Por outro lado, ouvimos dizer que a tecnologia vai ameaçar os postos de trabalho das pessoas e que as últimas para sobreviver a essa competição devem trabalhar características como: pensamento crítico, reconhecimento de emoções, trabalho de equipa, bem como em assegurar o seu upskilling ou reskilling de novas competências.
Todas estas buzz words deixam as organizações assoberbadas de informação e necessidades e com a noção de que têm de fazer algo e rápido, mas muitas vezes sem saber por onde começar. Vamos respirar fundo e começar pelo princípio.
Por onde começar dentro da minha organização
Faz sentido começar por pensar qual a estratégia de futuro, avaliar quem tenho na minha organização e me permite ir ao encontro desses objetivos e que mudanças preciso de fazer seja ao nível de pessoas, seja dos processos e ferramentas. É necessário analisar se são necessárias mudanças nas estruturas dos departamentos, bem como se tenho o talento chave alocado nas posições chave para executar a estratégia da organização. É neste diagnóstico e definição de estratégia, que entra o papel dos HR Business Partners em parceria com consultores de capital humano especializados em redesenho organizacional.
Depois da sua organização compreender se tem as pessoas, as ferramentas e os processos certos há que começar a executar essa mudança. Quanto às pessoas, há que definir quais as funções que serão mais críticas para o sucesso, bem como quais as competências necessárias para ser um high performer nessa função e para tal é importante examinar as competências e motivações da sua força de trabalho atual. Quantos colaboradores serão capazes de ser high performers nas funções críticas do seu negócio no futuro? A sua empresa tem uma pipeline suficiente de pessoas para poder garantir esse sucesso? As melhores empresas auditam cuidadosamente as competências atuais dos seus colaboradores, a fim de identificar quaisquer lacunas que possam enfrentar. Construir a força de trabalho do futuro, começa agora.
Após recrutamentos e reorganizações internas (de funções ou departamento), pode ser necessário fazer o upskilling (dar novas competências para ajudar os papeis atuais de um colaborador) ou reskilling (providenciar novos recursos para que as pessoas possam assumir funções novas ou diferentes).
E se não tiver dentro da minha organização as pessoas com o skill set certo de competências digitais para fazer vingar a minha estratégia, onde vou encontrar em Portugal esse tipo de perfis?
Quando pensamos em ir recrutar fora, muitas vezes estas skills de RPA, Digital Marketing, IoT são escassas no nosso país. As grandes empresas em Portugal, que regra geral são as que mais precisam desta mudança, estão ainda pouco maduras no que concerne as skills digitais, uma vez que pela sua dimensão, são menos ágeis a adaptar-se a esta tendência e os seus colaboradores são muitas vezes debutantes nestas funções. Ainda assim, os setores mais amadurecidos em Portugal em termos de digitalização, são os setores que lidam com elevado volume de clientes e possuem processos mais complexos, como é o caso das Utilities, Retalho e Banca e Seguros. Setores como o Segurador, por exemplo, procuram tornar-se mais competitivos nos seus modelos de previsão de risco, e estão a recrutar Data Scientists para as funções de Atuariado, setores como os Bens de Consumo ou Retalho, para poderem vender online, procuram pessoas que dominem o Marketing Digital e o e-commerce (seja de vendas ou logística).
Portugal tem atraído nos últimos anos, alguns hubs tecnológicos que trazem expertise interessante neste sentido. Pode ser tanto nestas empresas ou em start ups tecnológicas, bem como recrutando fora de Portugal, que podemos iniciar também a procura por este tipo de competências.
Por fim, o recrutamento não tem de ser a última solução. Vejamos casos como os da Ford, que desenvolveu uma parceria com a Microsoft e Dell para trazer novas skills digitais para a empresa, no seguimento de uma tendência a que hoje em dia se chama de coopetition.
Começar já hoje a olhar para dentro (avaliar, formar e mudar as pessoas de função), ao mesmo tempo que olhamos para fora (recrutar ou desenvolver parcerias), é o único garante de que teremos as pessoas certas, no lugar certo, no timing certo de mudança para uma realidade mais digital.
Teresa Costa, Senior Consultant
Ray Human Capital